Eu assisti esse filme recentemente na Netflix e foge da maioria dos estereótipos sobre a Arábia Saudita que a gente vê por aí. Vamos conversar sobre O Sol da Gnose.
Nesse filme de comédia, um grupo de estudantes liderados por Husam (interpretado por Baraa Alem) se junta a um professor, Senhor Orabi (interpretado por Sohayb Godus), para fazer um filme de terror amador nas dependências do colégio, causando várias confusões.
A frase “causando várias confusões”, vai aqui para demonstrar onde estarão o humor e piadas.
E aí?! Eu sou o Marlon e este é o canal Dos Ratos.
Estamos falando de um filme de cada país que jogou a Copa do Mundo. Vamos pular a campeã Argentina, deixar ela por último e vamos falar do filme Saudita “O Sol da Gnose” dirigido por Faris Godus.
O nome original do filme é Shams Al-Ma’arif, que se refere a um infame grimório de magia Árabe com o mesmo nome. Temido por alguns por ser considerado como um compêndio de magia, o que é proibido pelo Islã.
Entre as coisas que o livro supostamente daria instruções, está a invocação de anjos e gênios do bem para realização de desejos, mas podendo por acidente invocar um gênio maligno no lugar. O que acontece no filme que eles estão fazendo em O Sol da Gnose.
Primeiro e mais importante ponto de um filme de comédia… Sim, o filme é muito engraçado com um humor inteligente, no sentido de ser perspicaz, não no sentido que é muito difícil de entender.
Além disso, esse humor está inserido numa história consistente e cativante. É leve e divertida, mas com conflitos e tensões tanto dentro do grupo fazendo o filme, quanto pressões externas.
As piadas e o enredo em si, tratam de adolescentes sendo adolescentes, sobre a rigidez da escola, amizades, identificação de grupos, e em menor grau até interesse romântico.
Eles demonstram, também, a experiência de fazer o filme como algo divertido, apesar dos perrengues que eles passam, enquanto nós nos divertimos vendo eles passarem por esse processo.
Para citar uma das tensões internas, há um conflito entre o gosto do Orabi por comédias antigas e do Husam por megaproduções estadunidenses. Enquanto um cita a série de comédia saudita “Tash Ma Tash”, o outro cita Tarantino.
Esse é só um exemplo, mas o filme não é só diversão e risadas. Tem momentos bem tensos e tristes, e o diretor passou essas emoções de forma eficaz.
Outra questão levantada pelo filme é fazer um trabalho porque ama, ou fazer algo que dê dinheiro. A gente sabe que isso não é uma opção para uma imensa parte das pessoas no mundo, que trabalha no que tem para poder ganhar o suficiente para pelo menos tentar sobreviver… e olha lá.
O protagonista do filme, por outro lado, tem uma condição material que lhe dá chance maior de escolher entre a sua vocação e algo mais “pés-no-chão” para se sustentar, como sua família aconselha. Se você assistir ao filme, vai ver qual das opções ele escolhe.
Ou seja, os temas tratados no filme são muito comuns a maioria das sociedades. Não tem nada sobre petróleo, sheiks, nem esquartejamento de jornalistas. Longe dos estereótipos normalmente passados pela mídia ocidental e seus puxa-sacos, como a mídia brasileira (para entender a questão “Ocidente”, veja o vídeo do filme “O Príncipe do Deserto”).
Voltando ao protagonista, em geral, como personagem, Husam não é lá grande coisa. Ele é um cara esperto, apaixonado pelo que faz, mas parece que faltou alguma coisa para ele ser mais cativante.
Os demais membros do grupo, como Orabi, e os outros dois que eu esqueci o nome dos personagens, um deles interpretado pelo Ismail Alhassan e outro interpretado pelo Ahmed Saddam, são engraçados e cumprem muito bem sua função para o enredo do filme. Eles não têm muita profundidade, mas eles são cativantes.
Assim como eu disse sobre o filme Flodder, os personagens individuais não brilham, mas eles funcionam muito melhor em coletivo. O grupo principal do filme funciona muito bem junto, aquela coisa de que o todo é maior que a soma das partes.
Eu gostei da atuação também. Ninguém se destaca muito mais que os outros, nem positiva, nem negativamente. Me agradou.
Visualmente o filme é muito agradável. Bonito, claro, cores interessantes e ótimas transições. O filme dentro do filme também é excelente nesse sentido, emula perfeitamente um filme amador trasheira. Muito bom.
Outra coisa que foge ao estereotipo é a trilha sonora, uma das primeiras cenas já tem um rap, por exemplo. As músicas sempre encaixam direitinho com as cenas, tanto com momentos como o exemplo do rap, que eu acabei de dar, mas também quando cabem, músicas mais típicas, elas também estão presentes.
É isso. Eu te encorajo a se inscrever no canal, dar like, comentar e compartilhar o vídeo e/ou esse texto.
Obrigado. Nos vemos em breve!
Links e Fontes
Página Wiki do Filme: https://en.wikipedia.org/wiki/Shams_Al-Ma%27arif_(film)
Página Wiki do Grimório: https://en.wikipedia.org/wiki/Shams_al-Ma%27arif
Shams al-Maarif: Por que este livro mistico é temido no Oriente Médio: https://www.middleeasteye.net/discover/shams-al-maarif-occult-sufi-book-feared-middle-east
O que o Islã diz sobre feitiçaria?: https://www.islamreligion.com/pt/articles/5246/viewall/feiticaria-no-isla-parte-1-de-2/
Foto de Quentin Tarantino por Gage Skidmore licenciada por Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported
Foto de Jamal Khashoggi por April Brady / POMED licenciada por Creative Commons Attribution 2.0 Generic
IMDb: https://www.imdb.com/title/tt11833648/
Rotten Tomatoes: https://www.rottentomatoes.com/m/the_book_of_sun